Num simples processo de lesão corporal ocorrida em determinada época, é possível verificar comportamentos muito além do fato retratado no processo judicial.
Nos primeiros anos da década de 1940 o mundo vivia uma grave crise. Estavam em disputa dois projetos de governança, de modelo econômico, poder político. O mundo dividia-se em um campo com a mínima presença do Estado e outro, em defesa de um Estado sempre presente na gestão social, econômica e política.
Entremeando esta crise, observam-se movimentos que exaltavam as qualidades de uma nação como superior a outras e que esta superioridade estabelecia o critério de deter o posto de comando. As consequências desta disputa explodiram na Segunda Guerra, período que não se quer repetir.
Nesta época, em Caxias do Sul, um imigrante italiano reclamava seu direito de reparação por ofensas recebidas por um brasileiro, durante um encontro trivial num mercado da cidade. O relato principal da ação inclui uma acalourada discussão, permeada por afrontas, xingamentos e agressão física, originados numa questão puramente nacionalista, isto é: o sentimento de que se os italianos não estivessem no Brasil, a política mundial não estaria em crise e não ameaçaria a paz.
Num simples processo de lesão corporal ocorrida em determinada época, é possível verificar comportamentos muito além do fato retratado no processo judicial. Ao proceder uma leitura atenta dos autos, com aportes históricos acerca da conjuntura social, econômica e política, promove-se o entendimento dos costumes da sociedade na qual o fato aconteceu, bem como é possível abrir caminhos para a compreensão do momento experimentado.
E fica a pergunta: será que a contenda entre brasileiro e italiano foi motivada pelo sentimento nacionalista?
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